sábado, 29 de dezembro de 2007

O Amor de Eros e Psiquê

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Mitológico Eros

A doce loucura pintada sobre o véu do teu corpo
O suspiro inspirado
A nuvem que se afasta e te descobre
Nu
Acaricio a vulnerabilidade de ti
Disparo sobre ti a arma de cristais que te faz ser homem
O desejo
A volúpia
A excentricidade de fazer-te meu uno
A inocência utópica de tuas vestes translúcidas
O arrepio volúvel
O adormecido desperto
O teu corpo
Nu
Bebes um golo do vinho dos deuses
E deixas-te cair sobre panos enrolados de cetim
Cedo à tua mitologia orgásmica
Cedo ao grito
Ao prazer
Cedo à imagem refletida no espelho da criação
Emergimos os dois no banho da saudade
Palavras de eternidade
Sussurros vespertinos
O não verbo de deixar-te partir
E tu?
Elfo que desabrochas sobre uma montanha
Mitológico Eros
Ambrosiano parceiro de Afrodite
Misantropia erótica
Enlevo rodopiante
Abraço-me ao belo de ti e recebo o infinito.

E, continuando a série "Mitologia Grega", o Matutando conta hoje a história de Eros e Psiquê.

Eros tinha na Antigüidade dois significados: um, mais profundo e metafísico, descrito por Hesíodo em sua obra “A Teogonia”, como sendo “o princípio motor cósmico que tudo une e atrai – dos astros e os planetas até os seres vivos”. Já em Homero encontramos a versão mais popular de Eros. Este é filho de Ares com Afrodite, sendo representado como aquela criança sapeca (cupido) dotada de asas e uma aljava cheia de flechas do amor que atira a esmo para todos os lados, atormentando a vida dos deuses e dos mortais, com paixões repentinas e inusitadas.
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Assim como em quase todas as histórias da mitologia, também para o nascimento de Eros há diversas versões. Uma delas data da criação do mundo, quando a Noite, que circundava o Caos, foi fecundada pelo Vento, pondo um ovo de prata do qual saiu Eros, a representação do amor universal. Por não gostar da escuridão da noite, Eros pediu a Fanes, A Luz, que iluminasse o Céu e a Terra. E tendo-os desnudado, os uniu num abraço, fazendo surgir tudo o que ainda não nascera..

Uma segunda versão conta que Eros, também conhecido como o Cupido, seria filho de Afrodite, ou Vênus, deusa da beleza, que sempre fora muito cultuada por todos. Mas, num dado momento da história, a atenção que era dada aos templos da deusa começou a ser desviada para a beleza fora do comum de uma princesa mortal, Psiquê. Tomada de cólera por ver seus templos cada vez mais abandonados, Afrodite ordenou a seu filho que usasse uma de suas flechas fazendo com que Psiquê se encantasse pelo ser mais indigno da terra..

Eros partiu decidido a cumprir a tarefa, mas ao deparar-se com a jovem, foi imediatamente tomado pelo mesmo sentimento que distribuía entre deuses e mortais e se apaixonou por ela. Ao retornar, nada contou à mãe, limitando-se a deixar claro que a missão havia sido cumprida. A princesa, porém, desprezada por Vênus e amada por Eros, por mais que fosse admirada pelos homens, não encontrava quem por ela se apaixonasse. Preocupados, os pais foram ao Oráculo, onde obtiveram a seguinte resposta: "A virgem não se destina a ser esposa de um amante mortal. Seu futuro marido a espera no alto da montanha. É um monstro a quem nem os deuses nem os homens podem resistir.".

Desesperados, mas resignados com o destino imposto à filha, vestiram-na para as bodas e a levaram ao alto da colina, deixando-a sozinha. Ali, enquanto esperava, adormeceu e foi levada pela suave brisa de Zéfiro a um vale florido no qual se erguia majestoso castelo. Deslumbrada, ouviu uma voz que a conduziu ao palácio. Não havia ninguém ali e Psiquê temeu que o monstro surgisse ao cair da noite..

Mas quando escureceu, quem se aproximou foi Eros, a quem, no entanto, Psiquê não pôde ver. Mesmo assim, sentiu grande paixão pelo marido, ainda que, por vezes, lhe implorasse para ver seu rosto, desejo do qual era demovida sob a ameaça de terrível desgraça..

Apaixonada, Psiquê vivia feliz, mas passado algum tempo, passou a ser atormentada pela lembrança da tristeza com que os familiares a entregaram a um destino que julgavam terrível. Desejando despreocupá-los e com eles dividir sua felicidade, Psiquê, depois de muito insistir, conseguiu de Eros a permissão para trazer as irmãs ao castelo. Estas, que antes a pranteavam, ao verem o luxo no qual vivia, passaram a invejá-la e decidiram vingar-se..

Assim, encheram de dúvidas a mente da jovem que, tomada de curiosidade, seguiu as instruções das irmãs para conhecer a identidade do marido. Preparou uma lâmpada e uma faca afiada de forma que, quando ele dormisse, ela pudesse iluminar seu rosto e, caso fosse mesmo o terrível monstro previsto pelo Oráculo, lhe cortaria a cabeça e se libertaria da maldição. Mas ao iluminar o amado não viu um monstro, e sim o mais belo ser vivente. Emocionada, deixou cair, sem querer, uma gota do óleo da lâmpada no ombro de Eros, que acordou assustado e, percebendo a traição, deixou o palácio para não mais voltar dizendo "O amor não pode conviver com a desconfiança"..

As irmãs, sabendo do ocorrido, e com a esperança de serem escolhidas pelo deus, agora que este já não queria a esposa, foram, cada qual a seu tempo, à colina e convocaram Zéfiro para levá-las ao palácio. Quando lançaram-se no ar, não sendo sustentadas pelo vento, caíram no abismo, encontrando a morte..

Eros voltou para junto da mãe pedindo que lhe curasse o ombro. Mas ao contar-lhe como havia se ferido, despertou sua ira e fez com que desejasse ainda mais a vingança ainda não realizada. Assim, com o pretexto de tratar o ferimento, Afrodite trancou Eros na torre de seu templo como forma de protegê-lo dos encantos da esposa. Psiquê, por sua vez, começou a vagar à procura do amado, sem saber que dali em diante passaria por uma série de provações. Procurou auxílio em templos de vários deuses que, temerosos de desagradar Vênus, recusaram-se a ajudá-la. Cansada de andar em vão, decide ir à presença da própria Afrodite, na esperança de lá encontrar Eros. Assim começou uma série de tarefas impostas pela deusa com o pretexto de que provariam se a princesa merecia o esposo..

A primeira delas foi separar até a noite, uma grande quantidade de grãos de diversas espécies. Desanimada com a enormidade do trabalho, despertou a compaixão de formigas, que a ajudaram a terminar a tempo. A segunda tarefa consistia em recolher a lã dourada de certos carneiros que viviam perto de um rio. Também desta vez obteve ajuda, do rio, que lhe disse para colher a lã que ficava presa nos arbustos das margens. Como terceira tarefa, a jovem deveria subir a íngreme cascata que provinha da nascente do Rio Estige e pegar um pouco de sua água. Uma águia foi quem a ajudou a cumprir mais esta tarefa, êxito que enfurecia a deusa Afrodite. Por fim, uma tarefa impossível: Psiquê teria de ir ao Hades e pedir a Perséfone que colocasse numa caixa um pouco de sua beleza para dar a Afrodite. Mesmo tendo recebido instruções de como ultrapassar os portões do reino dos mortos ilesa, ao tomar posse da caixa, não resistiu à curiosidade de usufruir seu conteúdo e apresentar-se ainda mais bela ao marido. Mas dentro da caixa não havia beleza, e sim o sono da morte. Por sorte, recuperado de seu ferimento e ciente do que acontecia, Eros abandonou a casa materna e saiu em busca da esposa, indo encontrá-la ainda adormecida. Despertando-a e aprisionando novamente o sono na caixa, mandou que entregasse a encomenda a Vênus sem dizer palavra..

Para ter certeza de que não mais se separaria de Psiquê, o Cupido suplicou a Zeus que o unisse em matrimônio à jovem, no que foi atendido. O próprio Zeus lhe deu a ambrosia para beber, tornando-a, assim, imortal, e depois os declarou esposos. Desta união, que não pôde ser impedida por ninguém, nasceu uma criança chamada Volúpia.
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Inté...
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