sábado, 22 de dezembro de 2007

Um Conto de Natal

Nesses dias não ta nada fácil atualizar o Matutando. O corre-corre com preparativos pra ceia de natal, compra de presentes e organização de viagem, tem me tomado muito tempo... hoje fui à procura de um conto de natal pra postar, achei este legal, espero que curtam.
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Era véspera de Natal quando chegou em casa, arrastando os dissabores dos últimos doze meses. Chegou curvado e vencido, o ar faltando aos pulmões, sujo de angústia e ansiedade. Embora houvesse cumprido a missão – a mesma de todos os dias, de todos os anos – se sentia em falta. Os números, metas e objetivos fugidios atormentavam sua alma, seus sonhos e perspectivas. Sentiu que já estava farto de todas as responsabilidades que lhe sobravam. Bem que queria ter mais tempo para a família.
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Afrouxou o colarinho quase que instintivamente, buscando a janela e o ar fresco da rua. Viu o filho de longe, emoldurando o rosto sério, sentado na laje fria, brincando com a solidão antigripal, antifebril, antiviral – antipatia. Era rosto de tédio infantil. Tédio de criança sem graça.

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Foi então que se deu conta. Havia legado a frialdade dos concretos e mármores, a infertilidade dos monólogos ensimesmados, a pobreza dos pensamentos aprisionados. Deixara passar, simplesmente. E mesmo o novo ano não seria capaz de evitar que o novo fosse tão velho como a mesmidade dos números, metas, objetivos e obrigações – Chega!

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Se embriagou de loucura, peito inflado, olhos vermelhos decididos, o sangue da insanidade pulsando nas artérias, o rosto de quarenta e cinco anos de missões cumpridas, cansaço, enfado - Basta!. Foi no armário do quarto que encontrou o que precisava. A malha azul da mulher, as botas de chuva preta, a cueca e a toalha vermelhas, tudo do jeito que imaginou. Vestiu malha, sobrepôs cueca, calçou botas, amarrou toalha no pescoço. Engendrou, assim, uma outra missão, do tipo que se faz somente uma vez em vida, aquela que se impõe à razão como um dever metafísico. Por fazer, uma coisa só havia.

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Se aproximou da janela, decidido. Era necessário ir em frente, dar cabo daquela opacidade cotidiana, daquele rastro de vida. Respirou fundo, tentando encontrar toda a coragem possível. Subiu no parapeito, com o covardia nas pernas e a decisão no coração, desajeitado como quem improvisa. Subiu e esperou algum tempo. Depois, na ponta dos pés, ensaiou o salto, uma, duas, três vezes.

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O filho largou o brinquedo ao reconhecer o pai, enquadrado pelo marco da abertura, sem terno e gravata, sem celular, de mãos livres, esvoaçando a toalha que lhe pendia do pescoço. Foi tudo tão rápido que quase não conseguiu acompanhar.

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O homem colorido se atirou no ar, braços esticados, desafiando a gravidade – o verdadeiro desafio, o maior de sua vida. Despencou e, enquanto caía, viu, no rosto curioso do filho, romper um sorriso raro, sorriso inocente de quem acha divertido o que ainda não entende. A queda foi rápida e desajeitada. Quando os pés tocaram o solo de pedra, um baque surdo se fez ouvir, era o peso do corpo desabando sobre as pernas cansadas, anunciando o fim da empreitada, a última missão daquele dia, a mais importante de toda a sua vida.

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Quando o menino entendeu, soltou um grito: “Superman!”.

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No jardim, de pé em frente ao menino, com as mãos na cintura, olhar resoluto, pose de super herói, se fazia ver um homem de malha e cueca, botas de chuva e toalha, acenando para os vizinhos. Apesar da pequena altura da janela, torceu o tornozelo. Mas ninguém jamais soube disso.

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(Desconheço o autor)
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Lugirão, encontrei o presente de natal que você me pediu... ta bom esse papis Noel aí? hahahahahahaa...

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Cascada - Last Chr...

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Inté...

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