quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Banalidades


Banalidades

Acho que devemos todos nos dedicar seriamente à banalidade. O mundo não tem jeito mesmo, deixa o mundo para lá. Não se preocupe em se distrair, ficar desinformado e ser esquecido: quando o mundo chegar ao fim, com um estrondo ou uma inalação, você saberá. Fique descansado, o mundo não acaba sem você.

Às banalidades, portanto.

Por exemplo: para onde vão os seios à mostra quando saem das passarelas?

Espera um pouquinho. Deixa eu reformular a pergunta. Em todos os desfiles de moda pelo menos metade das modelos mostra roupas transparentes em que os seios aparecem. Mas é raro encontrar alguém na, digamos, vida civil, usando as mesmas roupas, ou roupas com a mesma transparência. Os seios não aparecem na mesma proporção, quando as roupas saem das passarelas para a realidade.

Ou eu é que ando freqüentando a realidade errada?

Pode-se argumentar que os desfiles são representações de um ideal impossível de ser reproduzido no cotidiano. Num desfile de modas todas as mulheres são lindas, altas e magras. São, por assim dizer, mulheres destiladas, ou a mulher como ela sonha ser - e andar, e brilhar, e vestir roupas caras. Desta maneira, os seios à mostra nos desfiles também seriam idealizações. Só seriam seios reais se viessem junto com o vestido, e a mulher, usando sua transparência, automaticamente ficasse com seios de manequim.

Pessimamente comparando, as manequins são como aqueles desenhos nos cartões à sua frente nas poltronas dos aviões, de pessoas ajustando o colete salva-vidas, colocando as máscaras de oxigênio, assumindo a posição adequada para o caso de queda do avião, atirando-se pelo tobogã para sair do avião acidentado - enfim, em situações de emergência. E nenhuma das pessoas tem cara de quem está numa situação de emergência. Não estão exatamente sorrindo, mas suas expressão é de quem enfrenta emergências com naturalidade, até com uma certa indiferença. São o tipo de pessoas que seguiriam as instruções de respirar normalmente depois de colocar as máscaras de oxigênio - coisa que você e eu nunca faríamos. As manequins são assim. Desfilam como se ser magnífica, com seios magníficos, fosse uma coisa comum. Na vida real, poucas mulheres podem usar uma roupa cara com a cara que a roupa cara merece, como fazem as manequins. Na vida real, ninguém respira normalmente durante uma emergência.

Banalidades, banalidades. Nada mais invejável, hoje em dia, do que não estar nem aí. E a forma mais enternecedora de desinformação é a conclusão errada.

Como a daquela senhora hipotética que ouviu contarem que as companhias de aviação estavam pensando em eliminar as facas nas suas refeições de bordo e achou que já não era sem tempo. Aplaudiu a medida, pois sempre fôra da opinião que a maior ameaça à segurança dos vôos era servirem carne - muitas vezes carne dura, sabe como é comida de avião - e provocarem guerras de cotoveladas entre as pessoas tentando cortá-la sem espaço, e que cedo ou tarde resultaria num conflito de proporções no interior da aeronave. O fim das facas significava que daqui por diante só serviriam comida pré-cortada, ou que se pode cortar com o garfo. Bravo.

- Não, não, Edimilda. É por causa dos terroristas.
- QUE TERRORISTAS?!

Também tem o caso daquele antropólogo amador que desenvolveu a tese de que já existiram seres com três braços, deduzindo isso dos poucos vestígios deixados pela raça desaparecida sobre a Terra, como o chuveirinho para se segurar com a mão, com o qual ninguém com apenas duas mãos consegue tomar banho; o coquetel, no qual, com uma mão segurando uma bebida e a outra um canapé, usava-se a terceira para cumprimentos ou coceiras extemporâneas, e... Está bem, chega. Mas me agradeça pela banalidade. Conseguimos chegar até aqui sem falar uma só vez em Iraque, Bin Laden, armas químicas ou o terrível, etc.

Ps. Ainda não terminei o post, volto mais tarde... estou procurando o autor, acho que é do Veríssimo...

Inté...
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