O interessante nas relações amorosas, no instante em que perdem o sentido, é a postura que assumem os envolvidos.
Raramente, o término de um afeto se dá de forma instantânea. Demora algum tempo para que a constatação angustiante do fim se manifeste. Angustiante porque é um prenúncio de morte, de luto, tanto o ficar como o ir embora.
E, talvez, o mais difícil seja passar a conviver com a sensação de fracasso, de impossibilidade em conservar o que se imaginava nosso e, mais ainda, o eventual erro na escolha feita. Então, se chega à conclusão dolorosa de que se plantou a semente da árvore do amor em terra árida ou se esqueceu de irrigar com constância e fidelidade.
Nesses momentos, a dimensão da situação ganha proporções de monstros devoradores. Tudo assusta!
Ao que diz a palavra final resta o ônus da culpa (que não é culpa, é coragem). Ao que ouve o veredicto cabe o ônus da derrota (que não é derrota, é desistência).
A experiência que não deu certo, que não pode continuar sob pena de um dos dois se desfigurar a ponto de perder a própria identidade, é tão desgastante para o que fica como para o que parte.
Preciso é reconhecer as limitações que nos impediram de crescer no relacionamento, sem culpar o outro pela nossa falibilidade pessoal e intransferível. No entanto, no mais das vezes, assistimos a um sem-número de acusações que, além de não nos livrar da culpa, acentuam as nossas omissões. Inexistem culpas em uma relação que acabou. Colocamos no afeto a projeção de necessidades egoístas e deixamos de ver o outro. Enxergamos só o nosso reflexo no espelho. Daí, cansados de nós mesmos, ficamos esvaziados das riquezas que uma troca verdadeira poderia vir a nos proporcionar.
Esquecer que a vida é uma moeda de dois lados é imprudente.
No jogo de culpas vemos apenas um aspecto, o nosso. Pomos um véu sobre as faltas que cometemos e fazemos do outro um algoz que dilacerou nossos sonhos no cadafalso do fim.
Em ambas as faces do amor que esmoreceu, há somente a interrupção de um ciclo, dando liberdade para que outro se inicie na complementação dos elos da existência.
Quando nos deparamos cara a cara com o conhecimento do que realmente somos, então sim, estamos prontos para fazer germinar a semente do verdadeiro encontro. Sabemos, enfim, das nossas restrições e do nosso ilimitado. Adquirimos a sabedoria de regar o amor em tempo certo, dando e recebendo na medida certa, numa cumplicidade e companheirismo que possibilitam a valentia para produzir flores e frutos sem desconhecer a ocorrência dos espinhos, mas sabendo que junto, unidos ao outro, somos capazes de arrancá-los.
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Música pra hoje...
Ana Carolina - Doi... |
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Update: Um poema da minha amiga e comentarista do Matutando, Ana Maria... o poema fala sobre o segundo tema postado...
Fim
Vejo em teus olhos
O disfarce
Sinto tuas mãos
Sem carinho
Teu pensamento
Desatento
Tua incerteza
É fria
Ouço tuas palavras
Sem sentimento
Sinto em teus gestos
Um homem incerto
Daquilo que quer.
Tento conter-me
Em dizer-te
Também estou assim
Fugindo de ti
E tu fugindo de mim.
Tento conter a ternura
Que ainda resiste
Sem muita doçura
Estamos fugindo
Do ocaso
Do nosso caso.
Fugindo do medo
Dos nossos segredos
Da separação
E eu escondo de ti
E tu escondes de mim
Que fomos um dia
Tu e eu
E agora é o fim
Não quero mais ver-te assim
Fugindo de mim.
Ana Maria
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Inté...
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