quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A Filha Secreta de François Miterrand

Pecados privados e públicas virtudes


E não é só aqui no Brasil que causos de políticos que tiveram filhos fora do casamento vêem a tona, obviamente que não. Estive lendo a estória da Mazarine Pingeot, filha do ex-presidente da frança, François Miterrand... ela viveu seus primeiros 19 anos de vida, escondendo das pessoas quem era o seu pai, já que ela era uma filha que François teve fora do casamento e que não assumiu publicamente.
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Mazarine nasceu em 1974, na época, François estava na sua primeira campanha presidencial. Ele governou a França por dois mandatos, era casado com Danielle e ainda assim convivia com a sua "família secreta".
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Bom, o que isso tem de novidade? O fato em si, nada, já que há tempos que veio a conhecimento público que Françoi mantinha uma segunda família. O que me chamou a atenção foi uma entrevista no jornal britânico "Times", onde Mazarine contou sua estória e o peso que este segredo lhe custava...
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"A pior coisa não é ter um segredo para guardar, mas ser um segredo. Não é fácil conquistar a confiança alheia, nem ser amada, quando você não pode revelar quem você é de verdade. Se eu gostava de uma menina ou de um menino, eu não podia dizer a eles que viessem me ver em casa à noite. Eu contei o segredo para alguns poucos amigos, o que tornou nossa amizade mais forte. Mas pensava duas vezes antes de falar a verdade sobre meu pai - era um assunto pesado para impor aos outros. O resultado foi o aspecto mais doloroso de minha infância - a solidão. Eu não tinha irmãos ou irmãs e era como se eu tivesse sido isolada do mundo. No fim das contas eu simplesmente deixei de querer amigos sempre por perto. Eu brincava com minhas bonecas, eu desenhava e, mais tarde, lia. Fui uma criança solitária num mundo adulto, porque passei a maior parte do meu tempo com meus pais. Fui forçada a ter seguranças, o que me deixava envergonhada quando eu era adolescente. Pensava que as pessoas não iam entender por que eu era levada de carro até a escola e por que havia sempre alguém me esperando na saída. Eu me preocupava que iam me achar burguesa. Passei a pedir ao motorista que me deixasse em uma rua do lado, para que ninguém me visse chegando à escola acompanhada. Então comprei uma bicicleta, o que significou liberdade - eu nem queria saber se estava ou não sendo seguida pelos seguranças. Não fui precoce nos namoricos - eu sentia que tinha a missão de proteger meus pais e achava que qualquer relacionamento deveria ser um compromisso sério. Pensava em tudo, analisava, tudo era pesado. A presença dos seguranças não ajudava. Não dava para beijar um garoto no cinema, porque eles estavam sentados na fileira de trás. Eu tentei me perder deles algumas vezes - devo ter sido muito chata.Também sofri como adolescente com a doença de meu pai. Quando eu era pequena meus pais esconderam de mim o fato de que ele tinha câncer. Mas você não consegue esconder nada de uma criança e eu tinha consciência da morte desde muito cedo. Meu pai estava velho e obcecado com a morte. Eu descobri que ele tinha câncer em 1992, quando ele teve de ser operado. Primeiro eu me neguei a achar que era grave. Mas depois tentei passar todo o tempo possível com ele. Ele me levava a restaurantes, mas sempre com um grupo grande de pessoas, para que eu não fosse notada. Quando a revista Paris Match publicou uma foto de meu pai e eu em novembro de 1994 eu fiquei chocada. Eu era ingênua - pensei que a vida seria sempre a mesma. Eu me senti como se tivesse sido estruprada, como se eu tivesse a peste e todos estivessem de olho em mim. Também senti que tinha sido desmentida, porque eu sempre mentia sobre meu pai - eu costumava inventar profissões para ele quando me perguntavam. Eu não queria sair de meu apartamento quando a revista publicou a foto. Pensei em ir embora da França, o que era estúpido. Mas no dia seguinte eu decidi ir à faculdade normalmente. As pessoas foram diretas comigo naquele dia, mas de repente eu era alvo da mídia. Quando meu pai morreu, dois anos depois, fotógrafos me seguiram na rua para tentar me fotografar chorando. Levei anos para me dar conta de que a capa da revista havia me libertado, e mais dez anos para me adaptar a um novo jeito de viver. Não tem sido fácil. Meu primeiro livro, Primeira Novela, foi publicado quando eu tinha 23 anos de idade e foi deemolido pelos críticos. Estou certo de que tinha qualidades e defeitos, mas eles criticaram o livro ferozmente por causa de meu pai. Meu quarto livro, Lábios Fechados, que é autobiográfico, foi melhor recebido. É um bestseller e recebi muitas cartas de pessoas que viveram em circunstâncias similares. É como se eu tivesse me tornado representante deles, o que não sou - pelo menos eu vivi com meus pais. Se eu consegui iniciar a carreira de escritora e consegui escrever sobre a minha infância foi graças a eles. Foram sempre muito amorosos. Às vezes é difícil - eu sofro de ansiedade e depressão -, mas uma coisa que meu pai me ensinou foi perseverança, que é o que me ajuda. Por 19 anos eu era filha de ninguém, mas finalmente eu decidi acrescentar o nome de meu pai aos meus documentos e agora sou Pingeot-Mitterand. Quanto ao meu filho, vou deixar que ele decida, quando for mais velho, se quer ou não o nome Mitterand. É um nome pesado para carregar."
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Inté...
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