terça-feira, 3 de julho de 2007

O Mulherão

Mulherão. O Lineu já nem reagia mais quando chamavam a sua nova mulher assim. Às vezes até ajudava.

- Lineu, essa sua mulher é...

- Eu sei. Um mulherão.

- Não, eu ia só dizer que ela é muito...

- Pode dizer. Mulherão. É o que todos dizem.

E o mulherão... Desculpe, a nova mulher do Lineu, era realmente muito bonita. Grande e bonita. Tão grande e tão bonita que logo se instalou o debate: ela não seria grande e bonita demais para o Lineu? Não era uma questão de duvidar da capacidade do Lineu de, assim, administrar tudo aquilo. Nem se discutia o direito do Lineu, apesar do seu tipo franzino, de ter uma mulher daquelas dimensões. A questão, no fundo, era de justiça.

A Valda - o nome dela era Valda, como as pastilhas, mas a semelhança terminava aí - era mulher demais para um homem só, fosse quem fosse o homem ou que físico tivesse. Monopolizando uma mulher como aquela o Lineu a estava, por assim dizer, sonegando. Alguma coisa - por justiça - tinha que sobrar para os outros. Aquilo era até uma metáfora perfeita para concentração de renda no País, não havia como não se revoltar. Onde estava a solidariedade? Restava saber como a mulher do Lineu reagiria a uma proposta distributivista.

Fez-se uma rápida enquete no grupo, no fim da qual foi escolhido o Romualdo para testar a receptividade da Valda. Romualdo, o Mualdão, era simpático e bem falante, além de ser casado com a Titina, que já estava acostumada com a sua fama de conquistador, e até fazia pouco dele, dizendo "Esse galo é só de cocoricó", ao que o Mualdão respondia "Vou te mostrar o cocoricó em casa", e todos riam. Todos no grupo eram casados. O último a casar fora o Lineu. E é preciso dizer que os homens do grupo respeitavam as mulheres do grupo. Ou, como dizia o Mualdão: "Mulher de amigo, pra mim, é homem feio." Mas também é preciso dizer que nenhuma das mulheres do grupo era um mulherão como a Valda.

Sem as mulheres saberem, é claro, o Romualdo foi escalado para uma missão de reconhecimento. Sua tarefa era descobrir, com jeito, se a Valda era, ao menos, cantável. Uma vez estabelecido isso, pensariam nos passos seguintes. Era necessário avançar com cuidado. Ninguém queria magoar o Lineu, logo o Lineu. Mas quem mandara ele casar com um monumento? O Mualdão pediu algumas semanas para estudar o terreno e fazer sua aproximação.

Contou depois que agira cientificamente, cuidando para não espantar a presa nem alertar o Lineu, e que finalmente conseguira ter com a Valda o que chamou de uma conversa franca, os dois sozinhos num bar, cartas na mesa, corações abertos, pessoas adultas e modernas, sim ou não?
.
- E então? - quis saber o Mariano, quase babando.
.
Os outros apertaram o círculo em torno do Mualdão. Estavam reunidos como num conselho de guerra. E então? Mualdão sacudiu a cabeça. Nada feito. Valda lhe confessara que era uma mulher com um apetite sexual equivalente ao seu tamanho, e que já tivera alguma experiência na vida, mas nada comparável ao que encontrara com o Lineu. O Lineu a satisfazia plenamente. O Lineu era o homem da sua vida. O homem definitivo. Não podia nem pensar em outro. Nada pessoal, dissera a Valda. Simpatizava muito com todos. Mas tudo o que precisava, tinha com o Lineu. O grupo se dispersou, arrasado.

Naquela noite, quando o Mualdão chegou em casa foi recebido pela Titina com o pé batendo no parquet, sempre um mau sinal. Tinha sido visto no bar com a Valda. O que tinha a dizer? E Mualdão foi obrigado a contar tudo. Sua missão de testar a Valda. E o que a Valda dissera sobre o Lineu.
.
Resultado: sem os homens saberem, as mulheres do grupo iniciaram um assédio organizado ao Lineu para descobrirem o que, nele, satisfaz tanto a Valda, um mulherão como a Valda.

O Lineu não sabe mais o que fazer com os olhares e as indiretas e os bilhetes que recebe. Na outra noite, num jantar com todo o grupo, sentiu até a mão da Titina por baixo da mesa, numa missão de reconhecimento.
.
(Luíz Fernando Veríssimo)

******************************************************

O "causo" é o seguinte. É como mamãe sempre diz: A gente não deve fazer propaganda de homem pra mulher, e vice e versa. Diferente do taxista do post abaixo, nesses casos, a propaganda nem sempre é a alma do negócio! Porque o que não falta nessas horas, é gente querendo se associar com a pretenção de abocanhar uma fatia dos lucros, tá ligada(o)!?...he...he...Boca de sirí meu bem...

*******************************************************

O Blog Oficial de Íris Stefanelli, publicou hoje (e por último...rs), o primeiro relato que fiz da visita de Íris em Montes Claros - MG... Era para ser o primeiro, mas tá valendo...rs. Confiram aqui uma parte do meu depoimento...


Inté...