sábado, 18 de agosto de 2007

O Padre


O PADRE

Às quartas-feiras me olhava com cara de quem comeu e não gostou e, suspirando indignado, abria a porta do confessionário, antecipando-me as penitências, todas elas bem maiores que os pecados que eu confessava ter.

Com olhos de desprezo me olhava, como se eu fosse uma pintura mal-acabada de Maria, a Madalena, que não tem cura e não se emenda, mariposa de noites sujas, pela indecência das ruas, iluminada. Com voz de culpa me falava, sentindo-se por mim ofendido, "sujeita ousada", que desrespeitando-lhe o rebanho, fazia barulho com os saltos e sob a transparência do vestido convidava ao pecado.

Podia sentir-lhe a respiração pesada através da treliça que nos separava, recriminando-me a invasão da hora Sagrada, quando uma multidão de ovelhas carcomidas, silenciosamente, desfiava nas contas do Rosário suas preces e ladainhas.

Mesmo assim, continuava me abrindo a porta, às quartas, hora da Ave-Maria e em todas as despedidas — enojado — dizia:

— Vá e não peques mais!

A isso eu não respondia, sorria um riso escondido, que não era de pilhéria, era mais um sorriso frouxo de quem colheu o que plantou!
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Texto da Mariza Lourenço, para uma calorosa noite de sábado... visite sua página na internet e delicie-se com belíssimos textos...

Inté...

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